Entrevista com Ivisson Cardoso

ivisson c

Ivisson Cardoso, mais conhecido como Meu Caro Vinho, é formado em letras e estuda jornalismo Cultural. Colecionador de discos e fã do Michael Jackson, começou escrevendo sobre música como um hobby. Do blog passou a usar o Instagram para divulgar seus textos, e, a partir daí, foi ganhando cada vez mais seguidores até ser convidado para assinar a coluna “Nossa Senhora do Comeback“, da revista Fórum, na internet. O espaço é dedicado a análises de trabalho de artistas populares dos anos 1970/80 e 90.

Nesta entrevista, Ivisson fala como surgiu seu interesse em escrever sobre música, sua opinião a respeito do atual cenário da crítica brasileira e o que pensa sobre blogs e críticos amadores.

 

Ítalo Richard – Como surgiu seu interesse em escrever sobre música? Começou escrevendo na internet?

Ivisson Cardoso – Eu sempre gostei de guardar matérias dos artistas que eu gostava. E sentia falta deles em livros dedicados a MPB. Eu sou formado em Letras pela UCSAL [Universidade Católica do Salvador], fiz um curso sobre Cultura Brasileira e fiquei frustrado com o meu desempenho na disciplina. Eu tinha uma professora chamada Zélia que era terrível. Mas essa disciplina me marcou, por causa da bibliografia usada para estudo. Ali foi quando comecei a pesquisar fundo sobre MPB, mas sentindo falta de muitas figuras conhecidas, eu sentia um certo desprezo quando tinha apelo popular. Preconceito mesmo. Então resolvi eu mesmo montar meu blog e falar, do meu jeito. Primeiros textos ruins.

Í. R – Atualmente, o senhor escreve suas críticas usando o Instagram. Por que o senhor optou por escrever seus textos nessa rede social?

I. C – Eu notei que eu tinha público. Que esperavam textos específicos sobre música infantil dos anos 80. Ninguém usava mais blog, fotolog ou comunidades. Ninguém usa mais site. Instagram se tornou viável.

Í. R – O senhor escreve em um blog da revista Fórum. Todos seus textos são publicados lá? Como é sua relação com os leitores do blog?

I. C – Foi assim: O Instagram foi o chamariz pra tudo. Quando notei que os leitores começaram a me cobrar mais, quando percebi que meus textos eram usados como referência… Corri pro Senac. Fiz um curso de jornalismo cultural. Eu tive que reaprender a escrever de forma mais certinha. Daí recebi o convite pra assinar a coluna “Nossa Senhora do Comeback”. Só que ainda uso o Instagram. A coluna tem um tipo de linguagem que não uso nas minhas redes.

Í. R – Então, começou como um hobby e depois o senhor foi levando mais a sério, até ser convidado para escrever a coluna, não é isso?

I.C – Sim. Era um hobby. Hoje não posso mais brincar. Acabou.

Í. R – O texto da coluna é diferente daquele que o senhor escreve nas redes?

I. C – É totalmente diferente e dá mais trabalho. A revista Fórum tem leitores mais sérios, diferente dos meus seguidores que me lêem de forma aleatória.

Í. R – Isso é interessante porque mantém o interesse em seus textos, não se torna uma mera transferência de conteúdo…

I. C -E também mostra que não é algo “just for fun”. Eu sou muito subestimado pela ala da crítica. Sou um dos poucos que fala sobre música infantil seriamente. Sem aquela coisa chapa branca, “fez porque pagaram”. Sempre escrevi sobre o que EU gosto. Não faço por encomenda. Falar de Xuxa sempre me mete em maus lençóis.

Í. R – Qual o critério na escolha dos álbuns que o senhor analisa, existe uma preferência de gênero musical, cena musical, época específica?

I. C – Eu noto que artistas populares das décadas de 70/80/90 são sempre mais pedidos. Então sigo o fluxo. MPB pouco me interessa.

Í. R – Como o senhor observa o atual cenário brasileiro da crítica musical?

I. C – A atual música que domina a cena está dominada pelo comércio. Perdeu-se o amor pela arte, tudo é relativo a número. Número que virou medida para sucesso ao invés de talento.

Í. R – Qual a função e importância do crítico musical na atualidade, uma vez que internet facilitou o acesso a uma infinidade de músicas e o próprio consumidor pode fazer suas escolhas e suas críticas?

I.C – Ter compromisso com a informação e se lembrar que a crítica revela muito sobre a visão pessoal de quem a faz. Não é uma verdade absoluta. Música é sentimento. Não existe um só lado. É preciso saber ponderar. A música é entretenimento, assim como pode servir para despertar reflexões.

Í. R – O senhor considera que há alguma diferença da crítica feita para jornal impresso da que é feita para internet?

I. C – Sim. No jornal impresso a forma que a leitura é feita e a própria formatação do texto é mais ampla. A de internet há muito corte. Muita coisa se suprime devido a pressa de quem faz leitura por tablets e celular. Textão, nem pensar.

Í. R – Existem blogs e sites, muito deles amadores, que se propõe a fazer crítica musical. Qual a sua opinião sobre esses blogs e críticos amadores?

I. C – Perigosos… Internet é terra sem lei, quem assume a responsabilidade da informação? São poucos que levam o ofício realmente a sério. Sem fanatismo. Haja filtro pra saber qual realmente é válido acompanhar.

Í. R – Quais características, na sua opinião, são importantes para que uma pessoa se denomine um crítico musical?

I.C – Estudo, leitura. Muita biografia pra pesquisar, muito almanaque pra se saber o que se corresponde à sua década e ser aberto a outros estilos… Porque música bebe de muitas fontes. O neosertanejo por exemplo, se faz valer do axé, do funk e do arrocha. E estão dominando a cena, tirando protagonismo da velha guarda. Nunca vi artista do neosertanejo sair no carnaval de Salvador com bloco. Isso é uma mudança significativa.

Í. R – O que a internet trouxe de novidade para a crítica?

I.C – Quem vai pra biblioteca fazer pesquisa? A internet hoje facilita a busca. No meu tempo era clipping e biblioteca. Muito recorte de jornal, revista. E ainda assim, tem suas limitações. Exemplo: Vc não encontra com facilidade artigos sobre axé music anos 80. Pesquisador algum mete a mão nisso. Mas sobre bossa nova e tropicália, uma avalanche. Música de massa não enche olho de crítico. Não dá status, é o que julgam. Cruel.

Í. R – O que o senhor acha sobre os comentários dos leitores, uma vez que eles também podem se posicionar criticamente?

I. C – Quem sabe ler, faz bom comentário. Os leitores “parciais” são um porre. Exemplo: É a visão do autor. Não perguntei o que você acha. Leia e entenda o que eu quis dizer e faça a análise.

Í. R – Mas os comentários acrescentam em algo? Chegam a mudar sua opinião quando são bem embasados?

I. C – Sim, sim. Acrescentam. Nesse caso, se a argumentação for boa, uso até para críticas posteriores.

 

Entrevista realizada pelo Facebook, entre os dias 15 e 16 de abril de 2016.

Deixe um comentário